17 de maio de 2021

B4 diariodolitoral.com.br SEGUNDA-FEIRA, 17 DE MAIO DE 2021 A O dia 1º de maio de 1994 marca uma tragédia para os brasileiros: a morte do tri- campeão de F1 Ayrton Senna. Enquanto ãs choravam, jor- nalistas buscavam entender o que causou o acidente. Esse e outros questiona- mentos permeavam a men- te de Flavio Gomes, à época enviado pelo jornal Folha de S.Paulo à Itália para cobrir o GP de San Marino. Ele é au- tor de “Ímola 1994”, livro em que narra sua trajetória como jornalista até a cobertura de umdos piores momentos do esporte. Publicado pela editora Gulliver, o livro traz em for- mato de crônicas os bastido- res do trabalho em veículos como a Folha de S.Paulo e a revista Placar. Dos tempos no jornal, ele se recorda da liber- dade que tinha para exercer seu o ício. Gomes relembra ter sido Desa os diante da morte de um ídolo nacional OMAIOR DRAMA DA FÓRMULA 1. Livro de Flavio Gomes relembra a morte do tricampeão mundial Ayrton Senna “O maior problema da Williams é a falta de estabilidade em pisos irregulares”, avisou Ayrton Senna antes do Grande Prêmio de San Marino, na última última conversa com Flávio Gomes O dia 1º de maio de 1994 marca uma tragédia para os brasileiros: a morte do tricampeão de F1 Ayrton Senna. Enquanto fãs choravam, jornalistas buscavam entender o que causou o acidente DIVULGAÇÃO REPRODUÇÃO/TV designado para cobrir uma briga entre o jornal e o Sin- dicato dos Jornalistas sobre a obrigatoriedade de diploma para o exercício da pro issão. Na ocasião, teve seus textos lidos diretamente pelo então diretor de Redação, Otavio Frias Filho (1957-2018), “que aprovava tudo sem mudar uma vírgula”, segundo ele. A atenção aos detalhes lhe renderam boas entrevistas, como a última conversa com Senna antes doGPde SanMa- rino. Dele, extraiu algo que soa como um prenúncio: “Omaior problemadaWil- liams é a falta de estabilidade em pisos irregulares. O car- ro ‘salta’ muito e não desfru- ta de seu potencial aerodi- nâmico. A suspensão, muito dura, agrava os defeitos de nascimento do projeto, origi- nalmente concebidopara uti- lizar umsistema computado- rizado, quemantémo carro a uma altura constante do solo [eletrônica proibida naquele ano pelo regulamento da F1]”, escreveu em trecho do texto publicado no periódico e re- produzido no livro. Em 2007, a Suprema Cor- te italiana concluiuque a cau- sa do acidente foi “a ruptura da barra de direção, causa- da por modi icação mal pro- jetada e executada”. Patrick Head, então diretor técnico da Williams, foi condenado por homicídio culposo (sema intenção de matar), mas não cumpriupenaporqueocrime prescrevera. As causas da batida no muro de concreto logo após a curva Tamburello, porém, ainda são controversas entre pilotos da época, como cita em trecho do livro que traz entrevista com Damon Hill, companheiro do brasileiro. “Ele [Senna] estava para uma parada [nos boxes], com o carro pesado e muito rápi- do, pneus frios, pressãobaixa. Se numa curva daquela o car- ro oscila por alguma razão, é muito fácil perder o controle. Dá para ver claramente pela câmera do [Michael] Schu- macher que o carro de Senna bate no chão.” Além da condição do car- ro, Gomes relata que o tri- campeão estava “mais tenso do que o normal naquele im de semana” por não ter pon- tuado nas duas corridas que fez na temporada. Na segunda-feira pós-aci- dente, o desa io imposto aos jornalistas era de conseguir informações da Williams, da FIA (Federação Internacional de Automobilismo) e das au- toridades italianas, que, a ir- ma o jornalista, “se fecharam num silêncio sepulcral”. Antes do translado até o Brasil, o corpo do piloto passou pelo IML (Instituto Médico Legal), local onde o repórter tentou buscar infor- mações sobre o ocorrido. Por coincidência, uma an- tiga namorada dele, a italiana Maria Cristina Gervasi, fazia na época especialização em Medicina Legal. Os professo- res dela eram justamente os médicos que izerama autóp- sia em Senna. Cristina contou detalhes do que pôde acompanhar. Segundo ela, “no estudo das meninges cerebrais, foram encontradas lesões que lem- bravamferimentos típicos de soldados que morreram em con litosmilitares por explo- sões próximas de bombas”. Ela disse, ainda, que oma- cacão usado pelo piloto foi entregue à família pelos mé- dicos, que antes tiveram de submetê-lo a várias lavagens para retirar todo o sangue. Após essa apuração, Fla- vio esperava retornar ao Bra- sil para cobrir o velório, mas, segundo conta no livro, a or- demda Secretaria de Redação da Folha de S.Paulo era para que ele icasse na Itália para acompanhar o inquérito do acidente. O jornalista diz ter argu- mentado que uma investiga- ção como essa levaria anos e não faria sentidopermanecer lá,masnãohouve concordân- cia com a che ia do jornal, e ele acabou desobedecendo a instrução de permanecer na Itália. Ocon lito acabaria por en- cerrar a passagemdele na Fo- lha de S.Paulo. Gomes foi des- ligado em9 de maio de 1994, por insubordinação, segundo conta. (FP) Publicado pela editora Gulliver, o livro traz em formato de crônicas os bastidores do trabalho em veículos como a Folha de S.Paulo e a revista Placar A Neta de imigrantes ja- poneses, a escritora baia- na Luciana Nagao procura preservar traços e in luên- cias positivas dessa mistu- ra oriental e rural brasileira. Raízes – A Força da Minha Origem busca expressar os vínculos familiares e regio- nais a partir de uma narrati- vadirecionada especialmen- te àqueles compoucoacesso aos livros. A linguagem simples vem apoiada de recursos que tornam a leitura ainda mais leve e prazerosa, como frases curtas e letras maio- res. Antes da introdução, a autora anuncia que o leitor encontrará palavras que tal- vez não conheça. Por isso, ‘Raízes’, um retorno às origens para democratizar a leitura Lu Nagao direciona “Raízes” a um público pouco familiarizado com livros e promove um encontro com as memórias de cada um DIVULGAÇÃO elas estão destacadas em negrito com um asterisco, complementado com a de- vida explicação. Arrendado, pinguela, embornal ematu- tei são algumas palavras que compõem o dicionário. Ocunho regional demui- tas expressões é explicado pela ambientação da obra, a Bahia, no inal da década de 1970. É nela que o romance avança pelos anos ao nar- rar a história de um rapaz que viveu a infância e ado- lescência nomeio rural sem poder ir para a escola. A per- severança do protagonista torna a trajetória um exem- plo para quem, com amor e bons princípios, encara as mais duras lutas. O que iluminava a casa de noite era a lamparina de querosene. A escuridão era normal, fazia parte da nossa rotina, poismeupai só tinha comprado duas lamparinas. Quando íamosdormir icava tudo escuro para não gas- tar querosene. Meus irmãos estavam acostumados, nin- guémtinhamedodo escuro. Nada de eletricidade, então nada de geladeira. Como vi- víamos sem geladeira? (Raí- zes, p. 15) Em páginas intercaladas ou entre capítulos, a autora propõe uma conversa com o leitor para que responda questões relacionadas aoen- redo comoumexercícioprá- tico de ixação e troca. Além da escrita, a interação tam- bém acontece por meio de desenhos e pinturas com o objetivo de promover re le- xões sobre temas como o poder damente, as escolhas e o que esperar da vida. Escrito inicialmente para as pessoas que não tiveram oportunidade de estudar, sentem di iculdade para en- tender ou não gostam de ler, Raízes foi além. Cativa de crianças a idosos ao pro- porcionar empatia e respeito incondicional àhistória e aos limites de cada um. “O pra- zer de chegar ao ime perce- ber que entendeu tudo – isso não tem preço para quem nunca leu um livro inteiro”, sintetiza a autora. (DL) Cultura

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