20 de junho de 2021

B4 diariodolitoral.com.br Domingo, 20 DE junho DE 2021 AA O avanço da imunização contra o coronavírus pelo mundo é acompanhado pela aprovaçãodeprojetospara im- plementar passaportes de va- cinação que garantam o livre acessoa restaurantes, parques ouatépaíses. Oobjetivoé faci- litarviagenseestimular a reto- mada do turismo. O Parlamento Europeu aprovou na semana passada o Certificado Verde Digital, que permitirá o deslocamen- to de pessoas pelos 27 países da União Europeia sem a ne- cessidadedequarentenaoude exames de coronavírus. O documento gratuito re- unirá informações sobre qual vacina o viajante tomou, tes- tes recentes ou se ele já se re- cuperou da doença. Os dados poderãoser lidos emumcódi- go QR impresso ou no celular. A previsão é que o certificado seja implementado a partir de 1º de julho, no início do verão no hemisfério Norte. Em iniciativa semelhante, o Senado brasileiro aprovou, também a criação de um pas- saporte de vacinação que po- derá ser cobrado na entrada de espaços públicos e priva- dos, como parques, hotéis e cruzeiros. Oprojeto, de autoria do se- nador Carlos Portinho (PL-RJ), apontaque caberá àUnião, es- tados, Distrito Federal e mu- nicípios definir os locais onde a apresentação do certificado será obrigatória. ChamadodeCertificadode Imunização e Segurança Sani- tária, o documento ainda pre- cisa ser aprovadopela Câmara dos Deputados. Se aprovado, seguirá para sanção do presi- dente Jair Bolsonaro (sempar- tido), que questiona a obriga- toriedadedavacinanoBrasil e já prometeu vetar o texto. O Japão, sede da Olimpía- da que começa em julho, e a Austráliasãooutrospaísesque discutema adoçãodeumpas- saporte de imunidade. SegundoMarianaAldrigui, pesquisadora e professora da Universidade de São Paulo, a implementação do mecanis- moénecessáriaparaaretoma- da do turismo. “No mundo, teremos mo- delos que serão abrangentes. Aprovado no Senado Federal, o Certificado de Imunização e Segurança Sanitária ainda precisa ser discutido pela Câmara dos Deputados REPRODUÇÃO Projetos para criar passaporte de vacinação avançamno mundo Por aqui, vejo como desperdí- cio de dinheiro público a cria- çãodealgo local.Osgastosnão se justificamemummomen- toemque temosoutraspriori- dades”, afirma Aldrigui. Ela diz tambémque, como ospassescontêminformações armazenadas virtualmente, existe a preocupação de que esse sistema possa expor da- dos pessoais. “É cada vezmais comum a apropriação de da- dos por criminosos. Isso po- deria evidenciar fragilidades de grupos ou países.” Não são apenas os gover- nos que estão sugerindo pas- saportesdevacinação. Interes- sadanoaumentodeviagens, a Iata (Associação Internacional de Transportes Aéreos) vem desenvolvendo o Iata Travel Pass, aplicativo gratuito que reunirá informaçõessobreexi- gências para a entrada empaí- ses e dados dos viajantes. A ideia é que a plataforma, em fase de testes, reúna in- formações de laboratórios e entidades de saúde que ates- temvacinaçãoeexamesdeCo- vid-19. No Brasil, os dados po- deriamser sincronizados com o Conecte SUS Cidadão, que apresenta histórico do imu- nizante recebido, local, data e código do vacinador. Atendidas as exigências do destino, o aplicativo emitirá uma autorização para que o viajante tenha liberada a en- trada, o que, segundo a Iata, poderia facilitarotrabalhodos agentes de imigração. “É uma tecnologia feita de forma padronizada. Os dados serão apresentados em um único formato. Não adianta umpaís implementarumafer- ramenta se outro não o fizer também”, diz Dany Oliveira, diretor-geral da Iata no Brasil. Para garantir a segurança dos viajantes, oaplicativocon- tará com tecnologias de reco- nhecimento facial, blockchain e criptografia. Informações pessoais só poderão ser aces- sadas pelo próprio usuário. GRAÇAS À VACINAÇÃO. Certificado de imunização pode ajudar na retomada do turismo, mas gera debate sobre desigualdade Segundooadvogadoecon- sultordenegóciosDaniel Tole- do, commaiordisponibilidade devacinas, alémdospassapor- tes, governos devem investir em bases de imunização em aeroportos como formade es- timular o turismo. “Nos EUA, por exemplo, os estados da Flórida e de Nova York mon- tarambases”, diz. Apesar do avanço da dis- cussão dos passaportes de va- cinação, a infectologista Sylvia Hinrichsen, da Sociedade Bra- sileira de Infectologia, afirma que utilizar um documento para a circulação livre de pes- soas não é seguro consideran- doas taxasdiferentesde trans- missão do vírus entre países e as novas variantes. “Ainda estamos na pande- mia, não há evidências cien- tíficas que justifiquem o re- laxamento de medidas de prevenção.” As vacinas con- tra a Covid-19 reduzem riscos de quadros severos e mortes, mas, segundo cientistas, não impedem a transmissão do vírus. Hinrichsen diz que a taxa de transmissibilidade da Co- vid-19 é alta e não se compara com a de doenças cuja imu- nização já é comprovada em certificados internacionais de saúde, caso da febre amarela. O presidente da sociedade de infectologia do Distrito Fe- deral, José David Urbaéz Brito, inclui a questão social no de- bate. Segundo ele, o passapor- tevai explicitar adesigualdade jáescancaradapelapandemia. “Tem áreas muito bem vaci- nadas e outras onde o vírus ainda circula com tranquili- dade. O ideal seria que brigás- semospelavacinapara todos”, diz. (FP) O objetivo do passaporte de vacinação é facilitar viagens e estimular a retomada do turismo REPRODUÇÃO PODCAST EXCLUSIVO DL cast OUÇA NAS PRINCIPAIS PLATAFORMAS DIGITAIS NOVOS EPISÓDIOS ÀS SEXTAS-FEIRAS APRESENTAÇÃO: JEFERSON MARQUES LG RODRIGUES AA Com o estresse causado pelo distanciamento social, preocupações e perdas de en- tes queridos, o simples gesto de publicar fotos de viagens pode desencadear uma série de comentários ofensivos nas redes sociais e prejuízos tam- bémapontos turísticoseredes hoteleiras. Areaçãopotencializadadu- rante a pandemia recebeu até nome: “travel shaming” (cons- trangimento de viagem, em português).Naprática,consiste no ato de criticar publicamen- te algum viajante, geralmen- te na internet, por entender que ele teve uma conduta ir- responsável. Essetipodecomportamen- to ganhou destaque no últi- mo ano quando celebridades e influenciadores digitais fo- ram cancelados após publica- remnas redes conteúdos con- Pandemia faz crescer vergonha de viagens nas redes sociais siderados inapropriados para omomento. Em caso recente, o jogador Marcelo, doRealMadridecom passagens pela seleção brasi- leira, recebeu uma enxurrada de críticas no seu perfil do Ins- tagram depois de postar uma foto com a família na orla de umapraiadeValência,naEspa- nha. Todos estavam semmás- cara. Além das reações negati- vas dos internautas, o atleta e os familiares foram multados em€2.700(cercadeR$18mil) pelo Departamento de Justiça da cidade. Vários outros casos seme- lhantes pelo mundo fizeram até o papa Francisco conde- nar aqueles que viajaram em meio à pandemia. “Eles não pensaram naqueles que esta- vamficando emcasa, nos pro- blemas econômicos que atin- giram várias pessoas durante o lockdown, naspessoasdoen- tes, apenas em sair no feriado e se divertir”, disse o pontífice em janeiro. Mais que constrangimen- tospessoais,o“travelshaming” pode atingir diferentes esferas do setor turístico e impactar de forma negativa a reputação demarcas ou destinos, afirma Alan Guizi, professor de turis- modaUniversidadeAnhembi Morumbi. Segundo ele, ferramentas que mapeiam o perfil e com- portamento dos consumido- resnas redes sociais enos sites possibilitam ações de marke- ting e comunicação mais per- sonalizadas. A estratégia esti- mula a criação das chamadas tribos de consumo, nas quais pessoas buscam marcas por afinidades, crenças e valores. (FP)

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