20 de setembro de 2021

A8 diariodolitoral.com.br Segunda-feira, 20 DE setembro DE 2021 AA Talvez, para falar sobre o novo filme de Clint Eastwood, se deva pegar carona no que sobre ele disse ao britânico The Guardian. Cry Macho - O Caminho para Redenção po- derá não ser o último filme de Clint. Aos 91 anos, ele se- gue como impávido colosso. Mas talvez seja o “ultimate”, o definitivo. Todo filme de Clint poderia se chamar Cry Ma- cho. O macho sensível, emo- tivo. Pense em Os Imperdoá- veis, Gran Torino, Menina de Ouro, A Conquista da Honra, AMula. Todos poderiamcha- mar-se Cry Macho. Há dois ou três anos, Clint chegou a aventar a hipótese de aposentadoria, não do di- retor, mas do ator. Disse que seguiria dirigindo, mas não tinha muito mais interesse em interpretar. O livro de N. Richard Nash, que coescre- veu o roteiro, fez comque ele mudasse de opinião. Ocome- ço não poderia ser mais eco- nômico. Clint faz umex-cam- peão de rodeio. Perde o posto sumariamente - fim da linha para ele. Mas logo é chamado para uma missão. O homem que lhe estendeuamãoquan- do ele estava na pior quer que Clint o ajude a resgatar o filho que está no México. Um cur- to flash-back mostra o aci- dente que ele sofreu durante uma apresentação. Mais tar- de, uma fala do diálogo in- forma que sua mulher e o fi- lhomorreramnumacidente. Tudo isso abala, pode destruir um homem. O empregador lhe diz: “Vocêmedeve isso”. E ele acei- ta. Velhos códigos de honra. No México, onde o garoto de 13 anos deveria estar vivendo com a mãe, a surpresa. Ela se refere ao próprio filho como “monstro”. É rica, vive cerca- da de seguranças e, quando se encontram, está dando uma festa. Omacho solta uma pia- da machista - quando uma mulher está rindo de felici- Clint faz um ex-campeão de rodeio que vai ao México resgatar o filho de um homem que lhe estendeu a mão quando ele estava na pior DIVULGAÇÃO Aos 91, Clint Eastwood encanta e surpreende com ‘Cry Macho’ CINEMA. Após aventar a hipótese de aposentadoria, não do diretor, mas do ator, Clint não cessa de maravilhar o público dade, como ela, em geral o homem está com a bragui- lha aberta. Alguma feminista de carteirinha poderia citar o #MeToo para enquadrar o velho Clint. É pouco provável que alguémo faça. Tudoocor- re rapidamente. Ele acha o garoto, beben- do tequila e metido nas bri- gas de galo. Caemna estrada, de volta aos EUA, mais exa- tamente ao Texas. O galo se chama Macho. Clint - o per- sonagem - dá uma lição de vida ao garoto. Esse negócio de “macho” não tem nada a ver. Quase sempre quem se esconde por trás dessa facha- da está tentando mascarar a própria fraqueza. A estrada é cheia de percalços - federales, o capanga amante violento da mãe do fugitivo. A dupla chega a uma pequena cidade. É acolhida por uma viúva que possui uma cantina. O garo- to flagra a atraçãomútua que se estabelece entre os idosos. O caminho para (a) redenção passa pelo afeto. O dever cede espaço para outros temas clintianos - a confiança, e a quebra dela. O garoto, que se ligou a Clint, vai se sentir traído por ele. Tudo simples e direto. Em filmes comoMenina deOuro e Gran Torino, Clint, como autor, colocou na tela histó- rias de sacrifício, no sentido cristão. O personagem que o próprio Clint interpreta está sempre tentando se redimir - de uma vida de excessos, de violência, de desamor. Esse Clint “cristão” está longe de ser uma novidade, mas nun- ca, como aqui, o garoto e ele encontram guarida numa igreja consagrada à Virgem. A viúva reclama - igreja não é hotel. E os chama para sua casa. A jornada será de trans- formação para o trio de pro- tagonistas, Clint, o garoto e a viúva. É uma regra básica. Ocríti- co francês Michel Mourlet já disse que, no cinema, tudo se constrói na mise-en-scène. E mais - o cinema começa e se dilatana epidermedos atores. Clint, aos 91 anos, começa a ficar um pouco encurvado - o peso da existência? Mas se- gue rijo como encarnação do macho sensível. Sua ligação com o western vem desde o começo de sua carreira. Nes- se sentido, Cry Macho é pró- digo em referências. A paisa- gemé parte da aventura, e do drama. Opersonagemdorme no chão de terra, como velho caubói que é. Apesar da idade, nãoperdeuo jeito comos ani- mais e doma cavalos. Doma o garoto? O jovem aprende a dominar seus impulsos. No lombo do corcel, adquire se- gurança. Cry Macho é, definitiva- mente - e sem preconceito -, umgrande filme de velho. Os valores, o classicismo, tudo tem a marca de Clint. Ele não tenta enganar seu público, nem conquistar o público mais jovem, com fricotes de modernidade. Clint teve seus mestres, Don Siegel formado na montagem da velha esco- ladeHollywood, SergioLeone estendendo o tempo nas ce- nas de longa duração de seus spaghetti westerns, que vira- vam ópera com as trilhas de EnnioMorricone. Justamente a trilha de Cry Macho. Clint sempre foi um reputado co- nhecedor de jazz. Dessa vez, ele oferece um regalo. Eydie Gormé e Trio Los Panchos. Eydie quem? Eydie foi uma cantoranor- te-americana de jazz e pop. Aventurou-se pelos ritmos latinos, o improvável, mas bem-sucedido casamento entre jazz e bolero. Los Pan- chos foi um trio musical me- xicano. Ajudou a transformar o bolero, nascido em Cuba, num gênero musical predo- minantemente romântico, e de sucesso internacional. Em 1964, o trio e Eydie lan- çaram o álbum Amor, com canções comoHistória deUn Amor, Piel de Canela, Noso- tros, Caminito, Noche deRon- da. Tinha tambémSabor aMí. “Tanto tiempo disfrutamos de este amor/Nuestras almas se acercaron tantoasí/Queyo guardo tu sabor, pero tu llevas también sabor a mí/ Si nega- ras mi presencia em tu vivir/ Bastaria con abrazarte y con- versar/ tanta vida yo tedi, que por fuerza tienes ya/ Sabor a mí.” É como uma viagem no tempo. Clint e a viúva dan- çam Sabor a Mí. O tempo do afeto. Perdidoe reencontrado. Clint, quase centenário, não cessa de surpreender emara- vilhar. (FP) AA Era início de 1990 e Fernan- daAbreupreparava seuprimei- ro voo solo após o fim da Blitz, banda na qual foi backing vocal e comandou as rádios com su- cessos como Você Não Soube me Amar, além de vender mi- lhões de cópias de seuprimeiro álbumnos anos 1980. Longe da seara segura do pop-rock que sagrou o grupo, Abreu mergu- lhou na pista pop que fez seu primeiro disco, SLA Radical Dance Disco Club, figurar en- tre os favoritos dos DJs nas pis- tas do Rio e de São Paulo. Não, claro, semgerar temor no então presidente da grava- dora EMI, Jorge Davidson, que apostou na carreira solo da ar- tista. “Não tem mercado no Brasil pra essa coisa dançan- te”, anunciou. No que a cario- ca rebateu: “Não tinha, vamos inaugurar!”. E assim foi feito. Com 10 canções compostas com base em samples de no- mes como Madonna, Prince e Cheryl Lynn, Abreu viu as pis- tas e os sets de DJs se abrirem para seu som. E é quase como umagrade- cimento que a cantora lança nas plataformas digitais Fer- ‘Fernanda Abreu: 30 Anos de Baile’ celebra a obra da cantora carioca nanda Abreu: 30Anos de Baile, disco no qual celebra sua obra na visão de 15 DJs convidados a remixar canções como Ve- neno da Lata, Rio 40 Graus e a dobradinha Você pra Mim e Outro Sim, com a participação de Projota e Emicida. “É uma celebração dessa cena do baile, da festa e espe- cialmente dos DJs, que sem- pre estiverammuito próximos desde o primeiro disco, que re- ceberam commuito carinho e entusiasmo. Émuitoprazeroso celebrar essa parceria lançando esse projeto e prestando uma homenagem a essa cena que amo tanto, fortalecendo ainda mais essa parceria nas pistas, nas festas e nos bailes”, conta a cantora, que teve de adiar o projeto duas vezes. A primeira, ainda em 2020, por um bom motivo. Desde o início da pandemia, quando foi obrigada a gravar um DVD, Amor Geral (A)live, sem públi- co, a artista pôs no mercado pelo menos cinco produtos: o singleDoBen, emhomenagem a Jorge Ben Jor composta em parceria com Pedro Luís, o CD e DVD com o registro do show Amor Geral, e duas coletâneas: uma contendo Lados B de sua carreira, e outra com as princi- pais baladas que lançou ao lon- gode 30anos de trajetória solo, comemorados no anopassado. “Eu queria ter lançado an- tes, mas tinha muito produto, e a pandemia tinha dado uma piorada, então achei que não era o clima Agora que a gente tá com todo mundo vacinado, a galera comnoção aindausan- do máscara e indo para o tea- tro, para shows, achei que se- ria bom para comemorar esse novo perfil da pandemia com as pessoas um pouco mais se- guras”, diz. O segundo foi o fato de o lançamento original ter sido agendado para o dia 8 de se- tembro, aniversáriode 60 anos da cantora, e o dia seguinte às manifestações convocadas por Jair Bolsonaro e seus apoia- dores. “Aí não dá. Ia ficar com aquele ranço de todo mundo só falando sobre isso. Eu prefe- ri mudar”, conta a artista, anti- bolsonarista e que enxerga no futuro uma esperança de re- construção do que foi sucatea- do pelo atual governo. “Vamos passar por ummo- mentode reconstruçãoda nos- sa identidade, da nossa cultura que foi esmagada, demonizada, porque a arte é muito maior, e os artistas e o que eles pro- duzem, é tudo muito maior que isso. A minha expectativa é que a gente venha com tudo ao fim desse período que tive- mos com Bolsonaro”, afirma. Aos 60 anos, Fernanda vê como uma figura política que não se importa com o preço a pagar pela tomada de posi- ções. Foi eleitora de Eduardo Paes contra Crivella, acredi- ta na candidatura de Marcelo Freixo para o governo do Rio e acompanha a CPI da covid “como se fosseHouseof Cards”. Prestes a celebrar 40 anos de carreira, ela segue repleta de projetos, entre eles umnovo disco de remixes, mas apenas commulheres. É tambémcom uma seleção de cantoras que a artista pretende gravar um ál- bum de “feats”, enquanto não tira da vista um possível disco de sambas e um álbumde iné- ditas, alémde uma exposição e dois documentários. No futuro, talvez, uma autobiografia. (FP) Disco revê 30 anos da carreira de Fernanda Abreu na visão de 15 djs DIVULGAÇÃO Cultura

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