22 de novembro de 2021

A4 diariodolitoral.com.br Segunda-feira, 22 DE novembro DE 2021 AA “ACrônica Francesa” é a re- união de dois sonhos antigos, segundo seu diretor, o ame- ricano Wes Anderson: “Sem- pre quis fazer uma coleção de histórias curtas. E a segunda coisa que sempre quis fazer foi um filme sobre a [revista americana] The New Yorker”. Ele encontrou um exem- plar da publicação pela pri- meira vez no ensino médio e logo se apaixonou por seus contos, disse em apresenta- ção de seu novo longa, que estreou neste ano no Festival de Cannes. A fictícia Crônica Francesa, suplemento de um também imaginário jornal de Kansas, procura homenagear não só a revista nova-iorquina mas tambémhomenagear “a hon- rada tradição de jornalismo internacional americano”, se- gundo a atriz escocesa Tilda Swinton, uma das estrelas do filme. Em entrevista em Cannes durante o festival, ela disse considerar o momento mais emocionante do longa o epí- logo, em que sobem na tela nomes de 11 jornalistas e tex- tos que inspiraramAnderson. Alguns foram publicados na própria New Yorker, como o perfil escrito em 1977 por CalvinTomkins de Rosamond Bernier, que inspirou a perso- nagem J.K.L. Berensen, vivida por Tilda Swinton. “Era extraordinária. Uma americana apaixonada por arte europeia que viveu na França, na Espanha, foi ami- ga íntima de tantos, de Picas- so aManRay, fundou a revista de arte L’oeil, muito influen- te nos anos 1950”, descreve a atriz. No filme de Wes, Tilda re- presenta a segunda etapa da vida de Bernier, em que, ves- tida de alta costura, ela fazia palestras sobre arte emvárias cidades dos Estados Unidos. “Essas exibições ‘ridículas’ –e digo isso com todo amor– erammuito teatrais,misterio- sas. Você tema nítida impres- são de que ela praticava em frente ao espelho”, diz a atriz. Também saiu na New Yor- ker o textoque inspirouoper- Pôster de A Crônica Francesa, novo longa-metragem de Wes Anderson, foi divulgado pela Searchlight Studios para destacar o gigantesco elenco de atores do filme DIVULGAÇÃO Wes Anderson reúne atores- fetiche e celebra jornalismo CINEMA. Filme temmarcas registradas: linda paleta de cores, tom cômico discreto e penca de atores famosos sonagem do ator americano Adrien Brody, o galerista Ju- lien Cardazio, que descobre um talento de arte abstrata numpsicopata encarcerado e o transforma em pintor acla- mado. Cardazio é baseado no ne- gociante de arte Joseph Du- veen, retratado por S. N. Behr- man em 1951. Anderson inclui outras pu- blicações na compilação de 14 textos que virou o livro “An Editor Burial” (o enterro de um editor), a ser lançado em outubro pela Penguin. “Wes é muito específico sobre o que ele quer, em ní- vel até de cada movimento do personagem”, relatou Be- nício del Toro, que interpreta Moses Rosentholer, o presi- diário artista. Um dos “calouros” na equipe de estrelas que o di- retor americano costuma es- calar, ele diz ter ficado des- concertado ao ingressar na “experiência Wes”. “Não sabia o que esperar de ficar nomesmo hotel com todos, sem serviço de quarto, com regras do tipo ‘o café da manhã tem que ser no horá- rio x’. Todos jantam juntos na mesma mesa. Acabava meu prato e não tinha coragemde levantar”, diz ele. Para Adrien Brody, essa “coreografia” criada pelo ci- neasta é uma das chaves do sucesso de seus filmes: “To- dos temos que dançar juntos e há uma responsabilidade de todos por todos”. “A Crônica Francesa” é a reunião de dois sonhos antigos segundo Wes Anderson: “uma coleção de histórias curtas e um filme sobre a The New Yorker” Owen Wilson, que faz um repórter ciclista, é uma das muitas estrelas de ‘A Crônica Francesa’ DIVULGAÇÃO “David Golder - Tragédia de Um Homem Rico” (1930) Julien Duvivier “City Streets” (1931) Rouben Mamoulian “Boudou Querido” (1932) Jean Renoir “Love me Tonight” (1932) Rouben Mamoulian “O Homem que Sabia Demais” (1934) Alfred Hitchcock “Les Bas-Fonds” (1936) Jean Renoir “Um Carnet de Baile” (1937) Julien Duvivier “A Regra do Jogo” (1939) Jean Renoir “Jejum de Amor” (1940) Howard Hawks “L’Assassin Habite Au 21” (1942) Henri-Georges Clouzot “They Made me a Fugiti- ve” (1947) Alberto Cavalcanti “Quai des Orfèvres” (1947) Henri-Georges Clouzot “Aquela Loira” (1952) Jacques Becker “O Ouro de Nápoles” (1954) Vittorio De Sica “Grisbi, Ouro Maldito” (1954) Jacques Becker “Le Ballon Rouge” (1956) Albert Lamorisse “Noites Brancas” (1957) Luchino Visconti “A Embriaguez do Suces- so” (1957) Alexander Mackendrick “Meu Tio” (1958) Jacques Tati “Os Incompreendidos” (1959) François Truffaut “Atirem no Pianista” (1960) François Truffaut “A Um Passo da Liberda- de” (1960) Jacques Becker “A Verdade” (1960) Henri-Georges Clouzot “Vivre Sa Vie” (1962) Jean-Luc Godard “Irma La Douce” (1963) Billy Wilder “Trinta Anos Esta Noite” (1963) Louis Malle “Masculine-Feminine” (1966) Jean-Luc Godard “La Chinoise” (1967) Jean-Luc Godard “Tempo de Diversão” (1967) Jacques Tati “Painters Paining” (1972) Emile de Antonio “O Inquilino” (1976) Roman Polanski “O Fundo do Coração” (1982) Francis Ford Coppola Lista dos filmes Para Tilda, essa estrutura é o sonho de todo diretor, tor- nada possível emgrande par- te pelo “estimado e adorado” produtor Steve Rales, que, se- gundo ela, dá carta branca a Anderson. “Oque ele quiser, Rales diz ‘vá emfrente’. ‘Vocêquer dese- nhar um ônibus e levar todo mundo juntopara a subidado tapete vermelho de Cannes? Vamos nessa’.” Foi de fato de um ônibus especial que o diretor desem- barcou ao lado de parte de sua constelação para subir o tapete vermelho do Palá- cio dos Festivais de Cannes. A seu lado estavamTilda, Brody, Del Toro, Bill Murray (que in- terpreta o diretor da revista), Owen Wilson (que faz um re- pórter ciclista) e Thimothée Chalamet (umlíder estudantil de Paris-68). Nascido no Texas, Ander- son viveu boa parte da juven- tude emNovaYork,morahoje em Paris e é citado como um diretor que não se prende a oposições do tipo cinema americanoXcinema europeu. Seu 11º longa homenageia mais de 30 filmes, de dire- tores como o italiano Vitto- rio de Sica, o americano Billy Wilder, o brasileiro Alberto Cavalcanti e o britânico Al- fred Hitchcock. Mas, princi- palmente, franceses: estão na lista Julien Duvivier, Jean-Luc Godard, Henri-Georges Clou- zot, Jacques Tati, Louis Malle, François Truffaut. E JeanRenoir –foi “Boudou Querido”, de 1932, que ele re- comendouaDel Torona com- posição de seu personagem, e “A Regra do Jogo”, de 1939, es- tava na prateleira emque An- derson deixava “dicas de ins- piração”, segundo seus atores. Tilda, que já atuou emqua- tro filmes do americano e está no próximo –sendo rodado atualmente na Espanha–, o descreve como “cine-literal”: “Há um certo léxico de ima- gens, retratos nos quais se ins- pirar. Você está lidando não só com fantasia, mas com uma ‘cinefantasia’. Háuma atmosfe- ra de semelhança cultural que você reconhece, de estar na- quele espaço fantástico”. (FP) Cultura

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