24 de novembro de 2021

Esta página faz parte da edição impressa produzida pelo Diário do Litoral com circulação em bancas de jornais e assinantes. AUTENTICIDADE DA PÁGINA. A auten�cidade deste documento pode ser conferida através do QR Code ao lado ou pelo site http://dldigital.com.br A3 diariodolitoral.com.br Quarta-feira, 24 De novembro De 2021 MÁRCIO FRANÇA ‘Chapa Lula-Alckmin já provocou reações no cenário político’ A Márcio França se tornou um dos pro- tagonistas da discussão política nacional nas últimas semanas, ao ser considerado o principal articulador da possível chapa presidencial entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Geraldo Alckmin (de saída do PSDB) para 2022. Ele garante que nada está fecha- do, mas afirma que há a possibilidade des- sa união a princípio surpreendente de fato acontecer, após acenos positivos de Lula e de Alckmin. Essa “chapa quente” seria positiva para França rumo ao desejo de ser novamente governador de São Paulo, já que não teria a concorrência de Alckmin. Nesta entrevista exclusiva ao Diário do Litoral e à Gazeta , o pessebista explicou sobre a possível alian- ça e o que ela já influenciou no cenário po- lítico nacional. França também falou sobre o governa- dor João Doria (PSDB), seu principal desa- feto na vida pública, umdos poucos políti- cos a quem ele dedica palavras mais duras. “Tudo dele é superficial, rápido e sem pro- fundidade”, sentencia. Entre o antigo e o atual governador pau- lista parece só ter uma coisa em comum: ambos serem torcedores apaixonados do Santos Futebol Clube. França, inclusive, jo- goupelo infantil do clube, emuma posição que Doria poderia voltar a “acusá-lo” de so- cialista: a de ponta-esquerda. Sua carreira nos gramados acabou graças ao capitalis- mo, ao ter uma lesão no pé após pisar du- rante uma partida em uma garrafa de Co- ca-Cola. O pé era o direito. Diário -Osr. garanteque será candida- to a governador? Márcio França - Garanto. Claro que, na política, todos estamos como se fosse em um oceano: de manhã cedo começa a dar onda, e no dia seguinte está calmo. Só nes- te último mês já mudaram três vezes essa chapa, e daqui para lá (as eleições de 2022) ainda vão mudar muito mais. Mas, se de- pender da minha vontade, eu serei candi- dato a governador. Diário - O sr. disse ao Diário em se- tembro que “haveria uma surpresa” em relação ao futuro do Alckmin. Essa sur- presa era a agora tão falada chapa Lula- -Alckmin? MF - Não dá para garantir ainda, porque não temuma decisão,mas nãodeixa de ser uma surpresa. Só a possibilidade foi uma surpresa. EuconheçomuitooAlckmin, e eu tinha impressãoque ele é umhomemcom vontade e comdesejos de contribuir nacio- nalmente. Ele já esteve no governo quatro vezes, e todomundoquepassaquatrovezes por uma determinada função meio que já deu a sua cota de contribuição, então a pes- soa temaesperançadepoder contribuir em outropadrão, tantoquenaúltima se candi- datou a presidente. Diário - Mas ele foi mal em2018... MF - O que houve foi o seguinte: na ou- tra ele tinha idopara o segundo turno, com 40 e tantos milhões de votos [em 2006], mas nessaúltima ele pegouoBolsonarono auge, e foi jogadopara 4%ou 5%, entãonin- guém lembrava dele. Quando falavam de terceira via falavam de Datena, do Luciano Huck, do Mandetta. Então, na cabeça dele devia ficar pensando: “Poxa, por que será que não pensam emmim? Será que eu fiz alguma coisa tão errada assim? ‘Ah, não, é que o senhor foimuitomal na última’. Sim, mas fui mal porque houve um fenômeno claro, uma facada”.Uma tragédianomeiode uma campanhamuda tudo completamen- te. Quando o Eduardo [Campos] faleceu às 10h05 no avião, às 6 da tarde aMarina já ti- nha 46% dos votos. Diário - Como está neste momento a possibilidade da chapa Lula-Alckmin MF - O que está havendo agora é assim: levantaram a lebre, mas pensaram que o PT fosse responder “imagine, nunca”. Mas então o Lula falou coisas positivas [sobre a união comGeraldoAlckmin], e teve respos- tas tambémpositivas. Está aindamuitodis- tante da situação concreta, mas não deixa de ser surpresa pelo menos a embrulhada nacional. E ela já provocou reações no ce- nário político. Diário - Quais? MF - Por exemplo, a partir desse movi- mento foi que Bolsonaro começou a falar mais incisivamentedemigrarparaoPLePP, e ele tava falando até então de partidos pe- quenininhos. É igual um xadrez: eu movi- mentoumapeça, evocêmovimentaoutras peças. Ele reagiuà açãodoAlckmin, inclusi- ve falou publicamente “olha, esse Alckmin, querendo ser vice do Lula”. Ele sabe que um movimento desse, uma peça dessa impor- tância, emsemovimentandonóspodemos estar falando da eleição findar no primeiro turno. Porque, no fundo, o que acontece é que esses nomes que estão na fita aí, Man- detta, Moro etc., têm muita especulação, compouca certezade seremcandidatos. Na prática, se issovai acontecer, eudiriaqueva- mos termuitomenos candidatosdoquees- tão aparecendo agora. Pessoalmente, acho Moromuito difícil de ser candidato, muito difícil. Porque oMorovai estar embusca de ummandato. Se eu fosse ele, estaria. Diário - E essanotícia de que oPSBpe- diuaoPTapoioa cincoouseis cabeças de chapanos estadosparapossibilitar a cha- pa Lula-Alckmin, é verdadeira? MF - É verdadeira. O partido tem um núcleo de pessoas como eu que são muito antigas. Eu tenho40anos nopartido. Então sou eu, o Beto Albuquerque, do RioGrande do Sul, o Rodrigo Rollemberg, do Distrito Federal, o [Renato] Casagrande, governador do Espírito Santo, que somos da origemdo PSB. Também temo presidente do partido, Carlos Siqueira, que é o elo entre nós. Nis- so, acrescentou Pernambuco, que é o nú- cleo mais importante, que tem prefeitura. Neste instante, a nossa liderança, digamos, principal para o futuro evidentemente é o João, não sou mais eu, porque eu já tenho 58 anos. Teoricamente, se as apostas forem mais ou menos pela lógica, que tem chan- cede ter uma carreiramais longeva é o João [Campos]. Ele é o prefeito do Recife, tem 27 anos, ébrilhante. Semontarmosuma enge- nharia, mais cedo oumais tarde ele vai dis- putar a presidência da República, evidente- mente. Elevai disputarogovernouma certa hora e vai disputar apresidência. Então tem que ser moldado compaciência. Diário - É difícil negociar como PT? MF - Eles têm uma liderança popular, a maior liderança popular doPaís, e Bolsona- ro é uma liderança também popular. Eles sãoos doisúnicos líderes populares doPaís, com o Lula numa camada de pessoas, di- gamos, mais humildes. Essas duas grandes lideranças, claro, opinam e influenciam. Se eutenhoessa liderançacomigo, eutambém divido a força dela comigo. Então, quando você fala comoPT, dizem: “Eunãovouabrir mão de nada, eu quero tudo porque eu te- nho o Lula, eu vou puxar pelo 13”. Sincera- mente, eles têmtodo o direito de fazer isso. Diário - Por queDoria está tãodesgas- tado com o eleitorado, se ele tinha o cál- culo político de que estaria muito mais popular por causa da vacina? MF - Ele não tinha esse cálculo. Doria é umgrande produtor de eventos, omelhor que já conheci. Os eventos produzidos por ele ficam impecáveis, só que têm que ser curtos. São feitos para um fimde semana. Ninguém aguenta um seminário de dois anos. Tudo dele é superficial, rápido e sem profundidade. Tem o anúncio, o show, a medalha, e acabou, vamos para outro. Uma espécie de auto-ansiedade para ter outro. O Doria não quer ser prefeito, go- vernador e nem presidente: ele quer ser candidato. Ele aprendeu a ser candidato. Percebeu que ser candidato é um evento. Então, se você vai em uma coisa superfi- cial querendo uma coisa profunda você se frustra. Quando as pessoas vêmo Doria, a primeira imagem é até positiva, um cara que fala bem, sabe se comunicar, acorda cedo, é obstinado. Mas não temcoisamais profunda. Por exemplo, comprar a vaci- na da China é importante, mas é super- ficial. Profundo seria uma vacina nossa, e São Paulo tem padrão para ter vacina. (Bruno Hoffmann) Eu conheço muito o Alckmin, e eu tinha a impressão que ele é um homem com vontade de contribuir nacionalmente Tudo dele [Doria] é superficial, rápido e sem profundidade. Tem o anúncio, o show, a medalha, e acabou FOTOS: ETTORE CHIEREGUINI/GAZETADE S.PAULO

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