21 de fevereiro de 2021

B4 diariodolitoral.com.br DOMINGO, 21 DE FEVEREIRO DE 2021 A Pelé chega a um amplo sa- lão, vazio, onde no centro está posicionada uma única cadei- ra de madeira. Ele se dirige a ela, senta-se e, uma vez aco- modado, despreza o andador que o ajudou a caminhar até ali. Coloca o aparato de lado com um movimento brusco, como se não gostasse de ser visto comele. É uma das primeiras ima- gensdeumdocumentárioque, apesardecelebratório, expõeo Rei do Futebol a alguns temas equestões que elenão se acos- tumou a enfrentar. As di icul- dades de locomoção recentes, por exemplo, escancaradas no andador e na cadeira de rodas. Eapolítica, queoacompanhou praticamente por toda a vida, aindaqueelenuncatenhagos- tado de falar a respeito. “Pelé”, com pouco menos de duas horas de duração, es- treia na plataforma de strea- ming Net lix na próxima ter- ça-feira (23). A produção, realizada pelo braço audiovisual da agência Pitch International e dirigida por David Tryhorn, resgata o auge da carreira do jogador entre as Copas do Mundo de 1958 e 1970, período que com- preendeos trêsprimeiros títu- los mundiais da seleção brasi- leira, todos coma presença do Atleta do Século. O documentário é um re- gistrorelevanteprincipalmen- teparaasgeraçõesmaisnovas, que talvez não tenhamassisti- doao ilmePeléEterno (2004), mashoje, comacessoàNet lix, poderão ver grandes imagens do Rei em campo, todas elas muito bem tratadas -a Copa do Mundo de 1966, inclusive, é exibida a cores. Diversosex-companheiros, personalidades do futebol e i- guras ilustres de outras áreas concedem depoimento à pro- dução. Entre os jornalistas, Ro- berto Muylaert, José Trajano, PauloCésarVasconcellose Juca Kfouri falam sobre a trajetória do Rei. O cantor Gilberto Gil e a deputada Benedita da Sil- va (PT) retratamo ídolo do fu- tebol como um emblema do Brasilnegro. “Elesetransforma no símbolo da emancipação do brasileiro”, diz Gil, sobre o signi icado do craque nas con- quistas da seleção a partir do DocumentáriocelebraoaugedePelé, mas tambémexpõe fraquezasdoRei OREI NOSTREAMING. “Pelé”, compoucomenos de duas horas de duração, estreia na plataforma Netflix na próxima terça-feira (23). A produção resgata o auge da carreira do ex-jogador do Santos entre as Copas do Mundo de 1958 e 1970, e é dirigida por David Tryhorn Obra leva ao telespectador alguns dos golsmais fantásticos do Rei O documentário é um registro relevante principalmente para as gerações mais novas DIVULGAÇÃO/FIFA DIVULGAÇÃO/SANTOS FC Mundial de 1958. MasPauloCezarCaju, cam- peãodomundoaoladodePelé em1970, vainacontramãodos elogios ao simbolismo e pon- tuaquesemprecriticouocom- panheiro por sua falta de po- sição sobre temas políticos e sociais, como o racismo. Diretor e produtores ten- Documentário que será exibido na Netflix expõe o Rei do Futebol a alguns temas e questões que ele não se acostumou a enfrentar REPRODUÇÃO/NETFLIX Ex-companheiros e personalidades concederam depoimento DIVULGAÇÃO/CBF tamtirardePeléas impressões pessoais de um personagem que esteve sempre cercado pelapolíticaeseusatores. Apa- recenodocumentáriooaperto de mão com o general Emílio Garrastazu Médici, presidente doBrasil àépocadotricampeo- nato mundial, quando o país viveu seuperíododemaior re- pressão durante a ditadura. “Com a ditadura, mudou alguma coisa para você?”, per- guntaodiretor,DavidTryhorn. “Não, o futebol continuou omesmo. Paramim, pelome- nos,nãomudounada”,respon- de Pelé que, mais adiante, é perguntado sobre o conheci- mento que tinha dos abusos cometidos pelo governo nos anosdechumbo. “Seeudisses- se que não sabia, estaria men- tindo. Mas era di ícil saber o que era verdade e o que era mentira.” No processo de pesquisa e entrevistas, Tryhorn admite que sabia da di iculdade de ar- rancardoReidoFutebol, entre- vistadoebiografado inúmeras vezes, algoqueelenuncatenha dito na vida. “Era importante que a gente continuasse insis- tindo. Ele deveria ter feito algo mais. Poderia ele ter feitomais alguma coisa [na ditadura]?”, questiona o diretor. David Tryhorn considera como um dos trunfos de seu documentárioascenasemque Pelé frequenta um churrasco com seus ex-companheiros de Santos. Simplesmente por se tratar de ummomento em que ele não é visto como em- baixador ougaroto-propagan- da de nada. De camiseta, Pelé chega ao local de cadeira de rodas. Ao contrário da insatisfação que mostra como andador no iní- cio, esbanja bom-humor com osseusamigosdeoutrora. Edu, queatuouaoladodocamisa10 no Santos, brinca: “Vai dar um cavalodepau”, tirandoumsor- risode todos, inclusivedePelé. Entre uma entrevista e ou- tra, alémdas imagensdeepisó- diosdahistóriadoBrasilquese entrelaçam com sua carreira, um vasto material de arquivo leva ao telespectador alguns dos gols mais fantásticos do Rei, até mesmo os marcados emamistosos. Registrosquese tornarammotivodediscussão recenteemrazãodosnúmeros alcançados por Lionel Messi e CristianoRonaldonosditos jo- gos o iciais. O documentário não quer deixar margem para dúvidas. Em uma inscrição que surge na tela, aparece o total de gols marcados por ele: 1.283. Mas nãoépossível ouvir Pelé sobre otema. Aobranãoabordaessa questão. Como forma de promover o material, a Net lix convidou jornalistasparaumaentrevista como Rei, mas ele não se sen- tiu bem na data acordada. O compromisso foi adiado para o dia seguinte, quando houve novo cancelamento. Jáhaviamsidopreviamente vetadas,pelaequipequegeren- cia a imagemde Pelé, pergun- tas sobre a polêmica dos jogos o iciaisetambémarespeitoda morte de Maradona, em no- vembro do ano passado. As- suntos abordados apenas nas redes sociais do ex-jogador, mas não ementrevistas. (FP) Cultura

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